19 agosto, 2024

lítio?


A minha saca de ganga tenho-a atravessada na garganta.
O meu pescoço torcido mais parece uma alavanca
de arrombar portas.
De garganta empoleirada a dizer versos
escuto-vos, sem me escutar a mim.
O lítio, o lítio!, ouvia-se ao longe.
E o coração bateu a seco
como bexiga de porco em caixa de papelão:
poc pac pac poc ...
 
Assim vejo a rua por um postigo.
Todo o exterior é-me um imaginário fóbico,
um habitáculo sombrio ao mundo.
Aposto na sorte de um dia habitar
numa biblioteca ao ar livre.
 
 
Aurelino Costa