Mostrar mensagens com a etiqueta anxo pastor. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta anxo pastor. Mostrar todas as mensagens

08 setembro, 2025

vestígios luminosos

 




Anxo Pastor


Una vez colgadas en sus respectivas espadañas, las campanas no sólo marcaban el tiempo y, desde los matinales a los vesperales, llamaban a los fieles, sino que también —dotadas de fuerzas sobrenaturales— purificaban el espíritu y espantaban a los demonios. Porque la Iglesia, en su continua lucha contra la brujería y la superstición, confirió a las campanas poderes para el exorcismo. Ante la creencia, por ejemplo, de que los truenos y las granizadas eran provocados por brujas, que incluso la más diminuta piedra de granizo tenía pelo de bruja incrustado, las campanas eran tocadas para espantar tales maldiciones (2). De hecho, bien entrado el siglo XX y todavía en la memoria de sus viejos habitantes, las campanas de las iglesias continuaban sonando para tales propósitos. Es más, en ciertas regiones remotas de los Alpes de Alta Provenza, aquello todavía sucede

Gustaf Sobin

Uma vez pendurados nos respetivos bunhos, os sinos não só marcavam o tempo, das matinas às vespertinas, como chamavam os fiéis, mas também - dotados de forças sobrenaturais - purificavam o espírito e espantavam os demónios. Porque a Igreja, na sua luta contínua contra a bruxaria e a superstição, deu aos sinos poderes para o exorcismo. Diante da crença, por exemplo, de que trovões e granizo eram provocados por bruxas, de que até a mais minúscula pedra de granizo tinha cabelo de bruxa incrustado, os sinos eram tocados para espantar tais maldições. De facto, bem entrado o século XX e ainda na memória dos seus antigos habitantes, os sinos das igrejas continuaram a tocar para tais propósitos. Além disso, em certas regiões remotas dos Alpes da Alta Provença, tal ainda acontece.

 

 


08 agosto, 2025

That the universe is chrysalid / Que o universo é uma crisálida

 
Anxo Pastor



That the universe is chrysalid 
( Blake’s Birthday )
 
That the universe is chrysalid.
That all things that are, are continuous emanations.
That their being is a perpetual becoming.
That becoming is the breath of lust. And that lust is perfection.
That all increments are equal.
The spore is the clavicord of the tree.
The clavicord is lust.
That in creating we extend the very energy that creates us.
That this extension is space.
That space, the space we move through, and dwell in, is made up of
the infinitesimal crystals that we murmur.
Music hears.
That creation is momentum made perceptible.
The attempt to store or isolate momentum is tyranny.
Not sequence, but elaboration.
That genesis is a wind.
The rock ripples; the night swims.
That the eyes are forever swifter than their green mirrors.
That structure is shadow.
That music should catch fire and flame into gesture, motion, deed.
That the past hasn’t yet happened.
That only the edge is dominion.
Only the edge secretes.
That our lust is lightness. Acceleration.
And what we call the ‘stillness’ is the inconceivable velocity of our
flesh, thinking in the same space-cadence as the universe.
The thrust of a single whisper.
The lymph, the lightning!
That life, in its ecstatic throes, touches the resplendence of death.
That the senses shall iridesce into their infinite sensations.
That we become, ultimately, the space we’ve created.
 
Blossoming generatrix, and genius of our every breath.
 
 
Gustaf Sobin
 
 
Que o universo é uma crisálida
 ( Aniversário de Blake )
 
Que o universo é uma crisálida.
Que todas as coisas que são, são emanações contínuas.
Que o seu ser é um desenvolvimento perpétuo.
Que o seu destino é o sopro do desejo. E o desejo é perfeição.
Que todos os incrementos são equivalentes.
A espora é o cravo da árvore.
O cravo é desejo.
Que ao criar espalhamos a própria energia que nos cria.
Que essa extensão é espaço.
Que o espaço, o espaço onde nos movemos, onde vivemos,
é feito de pequenos cristais que murmuramos.
A música ouve.
Que a criação é o impulso que se torna percetível.
A tentativa de armazenar ou isolar o impulso é tirania.
Não sequência, mas desenvolvimento.
Que a génese é um vento.
A rocha enruga-se ; a noite nada.
Que os olhos são para sempre mais rápidos do que os seus espelhos verdes.
Que a estrutura é sombra.
Que a música deve arder em chamas como um gesto,
movimento, ato.
Que o passado ainda não aconteceu.
Que só a beira é domínio.
Só a beira destila.
Que o nosso desejo é leveza. Aceleração.
E o que chamamos «quietude» é a velocidade inconcebível
da nossa carne
que pensa dentro da mesma cadência espacial do universo.
A investida de um único sussurro.
A linfa, o raio!
Que a vida, nos seus espasmos estáticos, toca o esplendor
da morte.
Que os sentidos terão a iridiscência das suas sensações infinitas.
Que ultimamente nos tornamos no espaço que criamos.
·
Geradora florescente e génio de cada respiração nossa
 
 

05 julho, 2025

milagros / milagres

 

Anxo Pastor

milagros
 
yo he visto
con estos ojos castaños
entreabiertos atónitos
desplomarse torres más grandes
que su sombra a galope fugada
 
he presenciado
batallas campales
entre las sudorosas dudas de la aurora
y sus tristísimos quejidos
los hambrientos gemidos
del tiritar del aire desvestido
 
por una promesa mal cumplida
cruelmente trampeada
en enero
he sabido de trasatlánticos
que se han muerto de ansia de río
 
he visto en la refriega
cubrirse toda de primavera
rocío y flores entreabiertas
la carne desnuda dada por muerta
 
he oído prados que aullaban
obsesionados arrebatados
por haber sido serpeados
por un fornido sendero de guijarros
 
he sentido la lluvia
con lascivos besos húmedos
desvestir apremiante
los callejones más estrechos y prietos
 
he visto como en un afterhours
pasada la medianoche y los cerrojos
encenderse rojas las luces del alma
meterse mano con desesperación
las sonrojadas sombras del corazón
 
he visto a delfines
un día tres otoños
de ansia de anhelo alados
bucear en celo
entre los pliegues de los cielos
el punto de ebullición del cuerpo deseado
 
tantos milagros presenciados
me han convertido
en testigo locuaz de lo improbable
en una mujer crédula
escotada sin escamas
con una fe carnal
a prueba de cosquillas
granizadas loterías y desamor
 
 
Ana M. González


milagres
 
vi
com estes olhos castanhos
entreabertos atónitos
desabar torres maiores
que a sua sombra a galope foragida
 
testemunhei
batalhas campais
entre as suadas dúvidas da aurora
e os seus lamentos tristes
os famintos gemidos
do tiritar do ar despido
 
por uma promessa mal cumprida
cruelmente tramada
em janeiro
soube de transatlânticos
que morreram com ânsia de rio
 
vi na refrega
cobrir toda a primavera
orvalho e flores entreabertas
a carne nua dada como morta
 
ouvi prados que uivavam
obcecados arrebatados
por terem sido serpeados
por um robusto caminho de seixos
 
senti a chuva
com lascivos beijos molhados
despir premente
os becos mais estreitos e apertados
 
vi como num afterhours
passada a meia-noite e as fechaduras
acenderem-se vermelhas as luzes da alma
apalparem desesperadamente
as coradas sombras do coração
 
vi golfinhos
um dia três outonos
da ânsia do desejo alado
mergulhar no cio
entre os vincos dos céus
o ponto de ebulição do corpo desejado
 
tantos milagres testemunhados
converteram-me
em testemunha loquaz do improvável
em mulher crédula
decotada sem escamas
com uma fé carnal
à prova de cosquinhas
saraivadas lotarias e desamor
 


03 maio, 2025

possessões

  

Anxo Pastor


Indignan los ángulos elegíacos más oblicuos de la crónica del mito, escrita por el testigo de su creación, convertido temporalmente en el adorador de la diosa evocada. Que el hablante y el lector se sientan incómodos con el poder otorgado a esta presencia es parte de la intención del hablante. Ni mío ni de mí, sino desnudo, atrapado como un pez en la red del dolor; cementerios visitan peces; minas desusan; recuerdas momentos de autodescubrimiento vocacional: esqueletos sin cabeza, alegorías del amor, castigan el talento en autorrealizaciones. Al final de la narración, la inconstancia: el fenómeno pasajero, la mano confiada enmascarada por un guante. Si pudieras decirlo podrías quedarte. Excluido de la categoría de cosas que son vida, el aguijón en la cola del poema, la pérdida inevitable, la bomba repentina. Nos pinta muertos lo que, de alguna manera, nos permite seguir vivos.
 
 
José de María Romero Barea
 
 
Indignam os ângulos elegíacos mais oblíquos da crónica do mito, escrita pela testemunha da sua criação, temporariamente convertida no adorador da deusa evocada. Que o falante e o leitor se sintam desconfortáveis com o poder outorgado a esta presença é parte da intenção do falante. Nem meu, nem de mim, mas nu, preso como um peixe na rede da dor; cemitérios visitam peixes; minas desativam; lembras momentos de auto-descoberta vocacional: esqueletos sem cabeça, alegorias do amor, punem o talento em auto-realizações.No final da narrativa, a inconstância: o fenómeno passageiro, a mão confiante mascarada por uma luva. Se o conseguisses dizer, podias ficar. Excluído da categoria de coisas que são vida, o aguilhão na cauda do poema, a perda inevitável, a bomba repentina. Pinta-nos mortos, o que, de alguma forma, nos mantém vivos.


04 abril, 2025

La porte / A porta



Anxo Pastor


La porte
 
Ouvrez-nous donc la porte et nous verrons les vergers,
Nous boirons leur eau froide où la lune a mis sa trace.
La longue route brûle ennemie aux étrangers.
Nous errons sans savoir et ne trouvons nulle place.
 
Nous voulons voir des fleurs. Ici la soif est sur nous.
Attendant et souffrant, nous voici devant la porte.
S’il le faut nous romprons cette porte avec nos coups.
Nous pressons et poussons, mais la barrière est trop forte.
 
Il faut languir, attendre et regarder vainement.
Nous regardons la porte ; elle est close, inébranlable.
Nous y fixons nos yeux ; nous pleurons sous le tourment ;
Nous la voyons toujours ; le poids du temps nous accable.
 
La porte est devant nous ; que nous sert-il de vouloir ?
Il vaut mieux s’en aller abandonnant l’espérance.
Nous n’entrerons jamais. Nous sommes las de la voir…
La porte en s’ouvrant laissa passer tant de silence
 
Que ni les vergers ne sont parus ni nulle fleur ;
Seul l’espace immense où sont le vide et la lumière
Fut soudain présent de part en part, combla le cœur,
Et lava les yeux presque aveugles sous la poussière.

 
Simone Weil
 

A porta
 
Abram-nos, pois, a porta e veremos as plantações,
Beberemos as suas águas frias onde a lua pôs o seu olhar.
A estrada longa arde inimiga para as migrações.
Vagueamos sem saber e não encontramos nenhum lugar.
 
Queremos ver flores. Aqui a sede está sobre nós.
Esperando e sofrendo, aqui estamos diante da porta.
Se for preciso, arrombaremos a porta com o nosso atroz.
Pressionamos e puxamos, mas somos impedidos pela comporta 
 
É preciso sentir falta, esperar e olhar em vão.
Olhamos a porta ; está fechada, inabalável.
Fixamos os olhos nela; choramos sob o cachão;
Nós vemo-la sempre ; o peso do tempo é execrável
 
A porta está diante de nós ; de que nos serve querer?
É melhor ir embora, abandonando a a esperança.
Nunca entraremos. Estamos fartos de a ver...
A porta ao abrir-se deixou passar tanta mudança
 
Que nem os pomares apareceram, nem nenhuma flor ;
Apenas o  espaço imenso onde estão o vazio e a soleira
Esteve subitamente presente de todos os lados, brotou a cor
E lavou os olhos quase cegos sob a poeira.
 

08 março, 2025

estar a conhecer

 
Anxo Pastor


Difícil detectar historia en el campo,
un hombre o dos en un kilómetro,
el tiempo pasa allí como caricia suave.
En la ciudad golpea con saña y el desgaste
no es dudoso: allí hay eternidad,
aquí sólo un intento
de una razón atraviesamuros.
También la porquería, el moho
a la ciudad se agarran más que al campo,
que no le pone puertas al tiempo
y es, por lo tanto, eterno
lo que aquí es un intento
de aquella razón atraviesamuros.
 
A veces algún nadie se vuelve alguien,
sonríe imperturbable como si nada,
cada uno a lo suyo,
como sin cuerpo frente al cuerpo de ella,
baja compacta matrioshka maciza,
cruza de una calle a otra y a otra,
hasta llegar al Elba,
la aplastante grandeza de sus grúas,
la fluidez de sus aguas inhumanas,
globos de diésel, tanques de parafina.
 
Veo pasar una fanfarria de motores,
hombres gordos sudorosos,
reyes de ciudad,
cuna de ramas secas para todos,
que echan humo sobre el sagaz reclamo
de que un golpe de azar les hará ricos.
 
Ahora destaca el sol
el grosor de su ausencia en el prohibido aparcar,
señalando que es sitio reservado.
Ahora se acerca un perro
desafiando el vacío
que fue su territorio.
Ahora echo de menos sus “buenosdías”,
me duelen mis proyectos
de darle alguna vez un donativo
que le ahorrara las primeras heladas
de este largo invierno de los siglos,
un donativo noble, un donativo
llamado “te conozco”.
 
 
Carlos Ortega
 
 
Difícil detetar história no campo,
um ou dois homens num quilómetro,
o tempo passa ali como suave carícia.
Na cidade ataca com crueldade e o desgaste
não é duvidoso: há eternidade,
aqui apenas uma tentativa
de uma razão para saltar muros.
Também a porcaria, o mofo
à cidade se agarrem mais que ao campo,
que não bloqueia com portas o tempo
e é, portanto, eterno,
o que aqui é uma tentativa
dessa razão de transpor muros.
 
Às vezes um ninguém torna-se alguém,
sorri imperturbável como se não fosse nada,
cada um por si,
como sem corpo diante do corpo dela,
baixa compacta matrioska  maciça,
atravessa uma rua para outra e outra,
até chegar ao Elba,
a esmagadora grandeza dos seus guindastes,
o fluxo das suas águas desumanas,
balões de diesel, tanques de parafina.
 
Vejo passar uma fanfarra de motores,
homens gordos suados,
reis da cidade,
berço de ramos secos para todos,
que deitam fumo sobre o sagaz reclame
de que um golpe de sorte os tornará ricos.
 
Agora destaca-se o sol
a grossura de sua ausência no estacionamento proibido,
assinalando que é um lugar reservado.
Agora aproxima-se um cão
desafiando o vazio
que foi seu território.
Agora sinto falta do seu "bom dia",
doem-me os meus projetos
de lhe dar uma contribuição
que o poupasse das primeiras geadas
deste longo inverno dos séculos,
uma contribuição nobre, uma contribuição
chamada "conheço-te".
 

07 fevereiro, 2025

La sombra del volcán / A sombra do vulcão

 
Anxo Pastor

 
La sombra del volcán
 
Al atardecer, el viento amainó y nos trajo la sombra del volcán.
La dulce sombra bajaba mansamente la montaña, sonámbulos la recibíamos en el fresco más hondo del día; amaba el descender, tocaba imperceptible, en sí llevaba; el respirar del aire colmaba el gran vacío. La sombra nos bajaba, ya en su vuelo, hacia el astro creciente de la noche.
 
(Sueño de Vicente Rojo)
 

Alfonso Alegre Heitzmann
 
 
A sombra do vulcão
 
Ao entardecer, o vento amainou e trouxe-nos a sombra do vulcão.
A doce sombra baixava suavemente a montanha, sonâmbulos a recebíamos na mais profunda frescura do dia; amava o descer, tocava impercetível, em si continha; o respirar do ar preenchia o grande vazio. A sombra descia-nos, já em seu voo, para o astro crescente da noite.

(Sonho de Vicente Rojo)
 

03 janeiro, 2025

En el cuerpo del mundo / No corpo do mundo

 
Anxo Pastor


En el cuerpo del mundo
 
Mira de nuevo el mar, sonrisa innumerable,
aprende de su lengua la pobreza
en el verano de los girasoles
muertos, mira otra vez las olas,
 
saliva de los dioses, llénate de su luz,
que no podrá saciarte. Oh mundo,
en tus médanos gira todo aliento
a la busca de un cuerpo: el tuyo, luz.
 
Nos cegaste. Seguimos caminando,
a tientas en lo oscuro, hasta encontrar
para siempre ese cuerpo al que abrazarnos,
la cascada de luz, y ahí está la eternidad.
 
 
Andrés Sánchez Robayna
 
 
No corpo do mundo
 
Olha de novo o mar, sorriso inumerável,
aprende com a sua língua a pobreza
no verão dos girassóis
mortos, olha outra vez as ondas,
 
saliva dos deuses, enche-te com a sua luz,
que não te pode saciar. Oh mundo,
nas tuas dunas voluteia cada pulsão
à procura de um corpo: o teu, luz.
 
Cegaste-nos. Continuamos a caminhar,
às aranhas no escuro, até encontrar
para sempre esse corpo para abraçar,
a cascata de luz, onde está a eternidade.
 

07 dezembro, 2024

a penúltima bondade

 


Anxo Pastor, fui buscar uma malga de sopa






























¿Buscamos la felicidad de las vacas? Seguro que no. Pero bien es verdad que gran parte de nuestro sufrimiento procede de sentir la vida como vida personal, y de recordar y mantener presentes los sufrimientos y las desgracias de la travesía propia y de los demás. Aun así, ¿podemos aprender algo de la mirada de la vaca? Claro que sí, y en el sentido de saber repetir; de repetir como si de alguna manera fuera la primera vez
 
josep maría esquirol
 
Procuramos a felicidade das vacas? De certeza que não. Mas é verdade que grande parte do nosso sofrimento vem de sentir a vida como uma vida pessoal, e de lembrar e manter presentes os sofrimentos e as desgraças da própria jornada e da dos outros. Ainda assim, podemos aprender algo com o olhar da vaca? Claro que sim, e no sentido de saber repetir; de repetir como se de alguma forma fosse a primeira vez.

+ :

09 novembro, 2024

Vestuario / Guarda-roupa

Anxo Pastor


Vestuario
 
Las ropas que elegimos para vernos
y las que estando juntos nos quitamos.
Indumentaria y desnudez al mismo
tiempo. Con blusa, tú; con polo, yo;
 
colores entre ellos charlatanes.
Descalzos sobre la madera, piel
a la piel entregada. Con chaqueta
al final de la tarde, que refresca
 
por la ribera, o con el torso
descubierto en la playa,
héroes en un mármol que tallaron
 
los siglos. Recubiertos, despojados.
De la mano o por la cintura.
En el cuerpo, o revueltas por el suelo.
 
 
José Ángel Cilleruelo
 
 
 
Guarda-roupa
 
As roupas que escolhemos para nos ver
e as que, estando juntos, tiramos.
Vestimenta e nudez ao mesmo
tempo. Com blusa, tu; com pólo, eu;
 
cores entre elas charlatãs.
Descalços na madeira, pele
à pele entregue. Com casaco
ao fim da tarde, que arrefece
 
pela ribeira, ou com o torso
descoberto na praia,
heróis num mármore que esculpiram
 
os séculos. Cobertos, despojados.
De mão dada ou pela cintura.
No corpo, ou amotinados pelo chão.
 
 

11 outubro, 2024

Il tavolo di Schònberg / A mesa de Schönberg



Anxo Pastor

Il tavolo di Schònberg
 
L’immagine della bontà è spesso collegata a un rapporto amichevole e confidenziale con le cose, a una rispettosa familiarità con gli oggetti, a un’attenta e sapiente capacità di maneggiarli con abilità, ma anche con cura e riguardo. La gentilezza rivolta alle persone, agli animali, alle piante si estende, spontaneamente, alle cose, al bicchiere in cui si infila il fiore; la bontà è anche nelle mani, nel modo in cui si tendono verso altre o prendono un portacenere dal tavolo. L’attenzione, è stato detto, è una forma di preghiera, il riconoscimento della realtà oggettiva, di un ordine, di confini; un modo di guardare al di là e al di sopra del proprio Io, di sapere che nessuno è il satrapo tirannico e capriccioso del mondo né può devastarlo a suo arbitrio, come ci accade in quei penosi e impotenti scatti di collera in cui, non potendo distruggere noi stessi, gli altri o l’universo, facciamo a pezzi il primo oggetto che ci viene a tiro. C’è una robusta bontà delle mani, proprio di chi bada all’altro e non si concentra sterilmente solo sulle proprie smanie; assomiglia all’infanzia, la cui fantasia si accende per un sasso o per una scatola di fiammiferi vuota, e assomiglia soprattutto all’arte, che non esiste senza questa sensuale, curiosa e scrupolosa passione per la concretezza fisica e sensibile dei particolari, per le forme, i colori, gli odori, per una superficie liscia o spigolosa, per la rivelazione che può venire dall’orlo della risacca o dal bottone fuori posto di una giacca.
 
 
Claudio Magris
 
 
A mesa de Schönberg
 
A imagem da bondade anda muitas vezes ligada a uma relação amigável e confidencial com as coisas, a uma respeitosa familiaridade com os objetos, a uma atenta e sábia capacidade de os manejar com habilidade, mas também com cuidado e respeito. A amabilidade dirigida às pessoas, aos animais ou às plantas estende-se espontaneamente às coisas, ao copo onde se coloca a flor; a bondade também está nas mãos, na maneira como se inclinam para outras ou pegam um cinzeiro da mesa. A atenção, foi dito, é uma forma de prece, o reconhecimento da realidade objetiva, de uma ordem, de limites; um modo de olhar além e acima do próprio Eu, de saber que ninguém é o sátrapa tirânico e caprichoso do mundo nem o pode devastar a seu bel-prazer, como nos acontece nesses penosos e impotentes arranques de raiva em que, sem nos poder destroçar a nós mesmos, aos outros ou ao universo, despedaçamos o primeiro objeto que se coloca ao alcance. Existe uma robusta bondade das mãos, precisamente de quem se preocupa com os outros e não se concentra esterilmente apenas nos seus anseios; assemelha-se à infância, cuja fantasia é acesa por uma pedra ou uma caixa de fósforos vazia, e é parecida sobretudo à arte, que não existe sem essa paixão sensual, curiosa e escrupulosa pela concreção física e sensível dos detalhes, pelas formas, as cores, os odores, por uma superfície lisa ou áspera, pela revelação que pode vir da borda da ressaca ou do botão cosido torto num casaco.