Depois da Ponte da Pedra, mesmo antes de Leça do Balio, encontrei um rouxinol. Reconheci-o logo, era rouxo. Disse-me que tinha conseguido fugir da gaiola e que, de momento, não era procurado pela Força Aérea. Escapara das missas e não era alvo dos mísseis. Era livre de cantar. "Queres que te cante uma ária?", perguntou-me. Disse-lhe que esperasse enquanto ia buscar o gravador. "É para ouvir amanhã porque hoje estou com enxaqueca", disse-lhe eu, pondo-o a par da minha situação biológica. "Extraordinário", disse-me o rouxo, "vou existir amanhã, obrigado por me proporcionares alguma eternidade. Espero que não fiques surdo".
“Descansa”, disse ao rouxo, “ouvir-te-ei sempre, mesmo que amanhã sejas uma violeta"
alberto augusto miranda