A Couve galega
Cortaram a cabeça à couve galega.
Minha mãe não cortaria uma couve pelo olho.
Ereto o troço até morrer,
é pedestal da couve morta
não tem cara, nem tem rosto,
resta-lhe o seu pescoço.
Podiam ter-lhe tirado alguns filhinhos :
os arrebentos de lado,
as asas e mais nada!
E logo a couve mais bonita do quintal,
a imagem viva de minha Mãe!
Vou erguer um santuário
para conservar o tronco
e deixá-lo crescer,
pode ser que desponte!
Mas proíbo de o velar!
Ficará conforme está
no sarcófago do meu peito.
Só as rolas cantarão em sua memória.
Por amor alguém a levou
para a panela da sopa
e com azeite e alho
subiu ao céu da boca!
Soube, tão bem!
Aurelino Costa
Cortaram a cabeça à couve galega.
Minha mãe não cortaria uma couve pelo olho.
Ereto o troço até morrer,
é pedestal da couve morta
não tem cara, nem tem rosto,
resta-lhe o seu pescoço.
Podiam ter-lhe tirado alguns filhinhos :
os arrebentos de lado,
as asas e mais nada!
E logo a couve mais bonita do quintal,
a imagem viva de minha Mãe!
Vou erguer um santuário
para conservar o tronco
e deixá-lo crescer,
pode ser que desponte!
Mas proíbo de o velar!
Ficará conforme está
no sarcófago do meu peito.
Só as rolas cantarão em sua memória.
Por amor alguém a levou
para a panela da sopa
e com azeite e alho
subiu ao céu da boca!
Soube, tão bem!
Aurelino Costa