Corre, Menino, Corre!
(Uma Metavisão Transpessoal – um diálogo entre planos, onde o consciente e o inconsciente se entrelaçam num espaço atemporal.)
(O plano abre:)
O menino corre. Descalço, leve, carregado de invisibilidades.
Ele corre entre oliveiras que inclinam os ramos,
entre figueiras que estendem as folhas como mãos,
entre pássaros que riscam o céu com enigmas.
Corre, menino, corre! Não foges, procuras.
És movimento antes de ser forma,
a tua corrida é o verbo, o destino, a faísca que acende o que existe.
(A câmara flutua sobre o menino,
os seus passos entoam como batidas de tambor num mundo onde o som molda a matéria.
O chão parece desfazer-se e refazer-se a cada passada.)
(Cena: O Deserto.)
Agora és homem. As tuas mãos, antes pequenas e ágeis, seguram o vazio.
A areia escorre, o calor pesa, e o horizonte que prometia grandeza dissolve-se no ar tremeluzente.
O sonho do menino enfrentou o golpe do real.
Escuta:
não há derrota nos desertos.
O que parece perdido é o que se transforma.
Cada duna que te engoliu foi, na verdade, uma onda que te lavou.
Corre, menino, corre!
Mesmo que os pés já não toquem a terra, mesmo que a dureza do mundo tente ser a tua prisão.
(Os pássaros voltam. Pequenos, mas infinitos. Eles não voam acima: voam dentro.)
(Cena: O Vale do Retorno)
As figueiras que deixaste cresceram na tua ausência. Será um protesto?
As oliveiras, que já eram adultas, agora têm a sabedoria milenar.
Voltas ao lugar que sempre te esperou, que nunca foi o mesmo, porque também tu mudaste.
O chão reconhece os teus passos, já não pede para ficar.
(A câmara foca os olhos do homem.
Há neles uma faísca: não de cansaço, mas de reencontro.
Ele ergue a mão, toca o tronco de uma figueira,
e a casca dissolve-se em luz. O vento sopra, mas não sopra de fora: sopra de dentro.)
(A narração intensifica-se, como se o espírito do lugar falasse por todas as coisas:)
Corre, menino, corre!
As fronteiras que te prenderam são apenas sombras que a luz dissolve.
As árvores que plantaste guardaram os teus segredos,
não para escondê-los, mas para no-los devolver em forma de frutos.
Tu és a raiz e também és o voo.
(Uma revoada de pássaros cruza o céu.
O som de asas enche o espaço, como um murmúrio infinito.)
(A transição para o plano superior:)
O homem olha para o céu e vê um trilho que não é de nuvens, mas de sonhos perdidos.
Cada passo que deste, cada pedra que carregaste,
foi uma lição que não precisou de ser aprendida –
porque já estava em ti desde o princípio.
Agora, menino, não precisas mais de correr.
O movimento não está nos teus pés: está em ti.
És a folha que dança ao vento,
o canto dos pássaros invisíveis,
o brilho dourado que atravessa a paisagem ao entardecer.
(Cena final:)
O menino e o homem tornam-se um só.
A câmara afasta-se, mostrando o vale, as árvores, os pássaros,
tudo num movimento contínuo, como se o mundo respirasse contigo.
(E ao longe, uma voz suave, quase inaudível, mas clara como um sino, sussurra:)
"Corre, menino, corre! Não para escapar, mas para voar."
(A tela escurece lentamente, enquanto o som do vento e das asas se funde num silêncio profundo de paz.)
(Uma Metavisão Transpessoal – um diálogo entre planos, onde o consciente e o inconsciente se entrelaçam num espaço atemporal.)
(O plano abre:)
O menino corre. Descalço, leve, carregado de invisibilidades.
Ele corre entre oliveiras que inclinam os ramos,
entre figueiras que estendem as folhas como mãos,
entre pássaros que riscam o céu com enigmas.
Corre, menino, corre! Não foges, procuras.
És movimento antes de ser forma,
a tua corrida é o verbo, o destino, a faísca que acende o que existe.
(A câmara flutua sobre o menino,
os seus passos entoam como batidas de tambor num mundo onde o som molda a matéria.
O chão parece desfazer-se e refazer-se a cada passada.)
(Cena: O Deserto.)
Agora és homem. As tuas mãos, antes pequenas e ágeis, seguram o vazio.
A areia escorre, o calor pesa, e o horizonte que prometia grandeza dissolve-se no ar tremeluzente.
O sonho do menino enfrentou o golpe do real.
Escuta:
não há derrota nos desertos.
O que parece perdido é o que se transforma.
Cada duna que te engoliu foi, na verdade, uma onda que te lavou.
Corre, menino, corre!
Mesmo que os pés já não toquem a terra, mesmo que a dureza do mundo tente ser a tua prisão.
(Os pássaros voltam. Pequenos, mas infinitos. Eles não voam acima: voam dentro.)
(Cena: O Vale do Retorno)
As figueiras que deixaste cresceram na tua ausência. Será um protesto?
As oliveiras, que já eram adultas, agora têm a sabedoria milenar.
Voltas ao lugar que sempre te esperou, que nunca foi o mesmo, porque também tu mudaste.
O chão reconhece os teus passos, já não pede para ficar.
(A câmara foca os olhos do homem.
Há neles uma faísca: não de cansaço, mas de reencontro.
Ele ergue a mão, toca o tronco de uma figueira,
e a casca dissolve-se em luz. O vento sopra, mas não sopra de fora: sopra de dentro.)
(A narração intensifica-se, como se o espírito do lugar falasse por todas as coisas:)
Corre, menino, corre!
As fronteiras que te prenderam são apenas sombras que a luz dissolve.
As árvores que plantaste guardaram os teus segredos,
não para escondê-los, mas para no-los devolver em forma de frutos.
Tu és a raiz e também és o voo.
(Uma revoada de pássaros cruza o céu.
O som de asas enche o espaço, como um murmúrio infinito.)
(A transição para o plano superior:)
O homem olha para o céu e vê um trilho que não é de nuvens, mas de sonhos perdidos.
Cada passo que deste, cada pedra que carregaste,
foi uma lição que não precisou de ser aprendida –
porque já estava em ti desde o princípio.
Agora, menino, não precisas mais de correr.
O movimento não está nos teus pés: está em ti.
És a folha que dança ao vento,
o canto dos pássaros invisíveis,
o brilho dourado que atravessa a paisagem ao entardecer.
(Cena final:)
O menino e o homem tornam-se um só.
A câmara afasta-se, mostrando o vale, as árvores, os pássaros,
tudo num movimento contínuo, como se o mundo respirasse contigo.
(E ao longe, uma voz suave, quase inaudível, mas clara como um sino, sussurra:)
"Corre, menino, corre! Não para escapar, mas para voar."
(A tela escurece lentamente, enquanto o som do vento e das asas se funde num silêncio profundo de paz.)
Fátima Vale