06 abril, 2025

Lava em Estado de Ave



Lava em Estado de Ave
 
No lugar da fúria, um rio subterrâneo:  
a boca, pétala de girassol nocturno,  
soletra sementes de um amor desconhecido  
não sabe se é Fénix ou minhoca — arde na costela.  
 
O pai
repousa na cama-berço de silêncio.  
Ferrugem em néctar, a lei  
agora: um fóssil que floresce na bacia  
de argila. A sombra, insubmissa,  
refresca o ar que os pulmões herdaram  
como asa.  
 
Entre dois abismos, invento  
a gramática do músculo que sustenta  
o céu caído. Ternura sem sujeito:  
gravidade vestindo as feridas,  
íman que não interroga.  
O amor escorre  
entre os dedos da memória,  
líquido e sem nome —  
como a luz que persiste  
no olho fechado da pedra.  
 
Nenhum desengano resiste  
ao eclipse do que somos.  
Na palma da mão, além da tempestade,  
o amor é um segredo no sangue:  
algo que nasce da poda  
e não se extingue.  
 
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Fátima Vale