15 outubro, 2025

Les foules ne se fient plus à rien / As pessoas já não confiam em nada

 



Les foules ne se fient plus à rien — tout en ayant un avis sur tout.
 
C’est la politique, telle qu’elle a été pensée et envisagée depuis la Grèce antique, ainsi qu’au cours de la modernité, du tournant du xixe siècle à aujourd’hui, qui se voit, bien plus que redéfinie, ou même agonisante, inéluctablement condamnée à l’obsolescence. Toutes les prérogatives qui lui reviennent tomberont une à une en lambeau : mise en œuvre de programmes (ceux jusqu’ici élaborés par des humains) ; évaluation ; délibération ; décision ; et, bien sûr, les principes de pluralité et de contradiction constitutifs de la démocratie. Mais aussi l’incertitude et la temporalité, propres à la vie, permettant d’expérimenter sans arrêt une infinité d’horizons possibles, au point que l’un et l’autre représentent à la base la condition même de possibilité du politique. C’est comme si le recours à des cabinets de conseil, dont ont abusé moult gouvernements depuis une quinzaine d’années, avait inauguré le règne d’une technocratie bientôt appelée à prendre une mesure intégrale et automatisée. Seule s’imposera — à l’instar de ce qu’il se passe avec le thanatologos et les régimes de l’image et du son — la loi de la conformité. C’est-à-dire qu’aura lieu, en des circonstances toujours plus nombreuses, uniquement ce qui doit avoir lieu. Des opérations réalisées en fonction d’intérêts plus ou moins visibles et de stricts impératifs utilitaristes, mais poussés à l’extrême vu que ne devant plus devoir rendre de comptes et dont les systèmes sont conçus par des entrepreneurs et des ingénieurs qui eux-mêmes ne jurent que par ces impératifs. Soit des modes d’organisation froids, semblant impersonnels, du cours des choses, indéfiniment réactifs aux flux du réel, dynamiques donc, mais figés et répétitifs dans les axiomes qui les déterminent. Un épuisement de la prise en charge par des humains de la chose publique (et de toutes les imperfections, mais aussi parfois les perfectionnements concertés que celle-ci suppose) que, d’une certaine manière, alors que les réalités présentes sont si éloignées de son environnement d’alors, Jacques Ellul avait pu pressentir. Car ayant été l’un des seuls, à la fin des années 1970, à avoir eu la lucidité d’observer l’importance grandissante occupée par des systèmes techniques, mais aussi d’organes de décision toujours plus complexes et enchevêtrés innervant la société, ayant pour double effet — éminemment politique — de marginaliser l’action humaine et d’interdire la compréhension des motivations inspirant les mécanismes mis en place : « Il n’y a plus aucune organisation sociale ou politique significative possible pour cet ensemble dont chaque partie est soumise à des techniques, et liée aux autres par des techniques. » 
 
 
Éric Sadin
 
As pessoas já não confiam em nada - em simultâneo, têm uma opinião sobre tudo.


É a política, tal como foi pensada e considerada desde a Grécia antiga, assim como durante a modernidade, da viragem do século XIX até hoje, que se vê, muito mais que redefinida, ou mesmo agonizante, inevitavelmente condenada à obsolescência. Todas as prerrogativas que lhe cabem partir-se-ão, uma a uma, em cacos : implementação de programas ( os, até agora, desenvolvidos por seres humanos ) ; avaliação ; deliberação ; decisão ; e, claro, os princípios de pluralidade e contradição constituintes da democracia. Mas também a incerteza e a temporalidade, próprias da vida, que permitem experimentar incessantemente uma infinidade de horizontes possíveis, ao ponto de que ambos representam na base a própria condição de possibilidade do político. É como se o recurso a empresas de consultoria, usadas e abusadas por muitos governos há quinze anos, tivesse inaugurado o reinado de uma tecnocracia que logo seria chamada a tomar uma medida integral e automatizada. Apenas prevalecerá - como acontece com o tanatologos e os regimes da imagem e do som - a lei da conformidade. Isto é, em circunstâncias cada vez mais numerosas, ocorrerá apenas o que deve ocorrer. Operações realizadas em função de interesses mais ou menos visíveis e de imperativos estritamente utilitaristas, mas levadas ao extremo visto que já não têm de prestar contas e cujos sistemas são concebidos por empreiteiros e engenheiros que eles próprios juram por tais imperativos. Ou modos de organização frios, aparentemente impessoais, do curso das coisas, infinitamente reativos aos fluxos do real, dinâmicos, portanto, mas fixos e repetitivos nos axiomas que os determinam. Um esgotamento da responsabilidade humana pela coisa pública ( e de todas as imperfeições, mas também às vezes os aperfeiçoamentos concertados que esta supõe ) que, de certa forma, enquanto as realidades presentes estão tão distantes do seu ambiente de então, Jacques Ellul tinha podido prever. Pois tendo sido um dos únicos, no final da década de 1970, a ter a lucidez de observar a importância crescente ocupada por sistemas técnicos, mas também por órgãos de decisão cada vez mais complexos e entrelaçados enervando a sociedade, tendo como duplo efeito - eminentemente político - marginalizar a ação humana e proibir a compreensão das motivações que inspiram os mecanismos criados : " Não há mais nenhuma organização social ou política significativa possível para este conjunto cuja cada parte é submetida a técnicas, e ligada às outras por técnicas ".