23 agosto, 2025

Nadie te conoce / Ninguém te conhece


Nadie te conoce
no saben cómo
dispones la risa, moderas el hambre,
controlas el celo,
la voracidad de la carne
desconocen cuándo
clavarías la lanza,
si serías quien da o quien bebe
del veneno
lo inesperado es un mundo de ciegos mirando el mar
esta habitación, la ropa sucia, tu dolor de espalda
que rujas como un niño maldito
no sugieren nada
sobre el corazón más tierno
sobre el bonsái más soleado
se esparce el musgo
florece la catástrofe.

 
Laura García del Castaño
 
 
Ninguém te conhece
não sabem como
dispões o riso, moderas a fome,
controlas o ardor,
a voracidade da carne
não sabem quando
cravarias a lança,
se tu serias quem dá ou bebe
o veneno
o inesperado é um mundo de cegos olhando para o mar
esta sala, a roupa suja, a tua dor de costas
o rugires como uma criança maldita
não sugerem nada
no coração mais terno
no bonsai mais ensolarado
espalha-se o musgo
floresce a catástrofe.
 

20 agosto, 2025

Soy su silla de ruedas / Sou a sua cadeira de rodas


Mi perra corre por las calles escarbando la basura. Estamos en calor. La persigue media docena de perros que quiere su sangrecita. Los conductores paran y miran el espectáculo. Se olvidan de que existo. Observo desde la puerta cómo se queda unida a un macho casi el doble de grande. Voy a echarles agua helada para despegarlos.
 Mi cuerpo es un cactus restregándose en la arena.
 
A minha cadela corre pelas ruas esgaravatando o lixo. Estamos no calor. É perseguida por meia dúzia de cães que querem a sua cabidela. Os condutores param e assistem ao espetáculo. Esquecem-se que existo. Da porta observo como ela fica presa a um macho quase duas vezes maior. Vou deitar-lhes água gelada para os descolar.
    O meu corpo é um cato a roçar-se na areia.
 
La niña inválida me cosió las caderas a su silla de ruedas. Me hace depilar las cejas de sus barbies, me obliga a cantarle canciones mutiladas que devora en el aire. Me ha cortado las uñas desde la raíz. Me hace cambiarle sus pañales. Beber de su veneno.
 Soy la niña inválida.
 Soy su silla de ruedas.
 
A criança inválida coseu as minhas ancas à sua cadeira de rodas. Faz-me depilar as sobrancelhas das suas barbies, obriga-me a cantar músicas mutiladas que devora no ar. Cortou-me as unhas até ao sabugo. Faz-me mudar as suas fraldas. Beber do seu veneno.
     Sou a menina inválida.
     Sou a sua cadeira de rodas.

 
Michael Benítez Ortiz


19 agosto, 2025

El grito es mi lengua materna / O grito é a minha língua materna


I
Soy poeta primitiva, escribo con el cuerpo. Sobre una piscina de vidrio nadan libélulas accidentadas. Las palabras son incendios que se niegan a usar bozal. Vivo en una cueva. Unto con un sapo la flecha con que cazo las sombras de los civilizados.
      Aprendí a labrar el fuego con mis manos.
 
I
Sou poeta primitiva, escrevo com o corpo. Sobre uma piscina de vidro nadam libélulas acidentadas. As palavras são incêndios que se recusam a usar açaime. Vivo numa caverna. Unto com um bufo a flecha com que caço as sombras dos civilizados.
      Aprendi a lavrar o fogo com as minhas mãos.
 
XI
Incinerar mi cuerpo con un fósforo al final de la plaga. Respirar bajo el agua, recordar el tacto unicelular: el código en la piel. Recibo a la niña amordazada en mi pecho.
      Entre arroyos de cristal recuerdo mi verdadero rostro.
 
XI
Incinerar o meu corpo com um fósforo no fim da praga. Respirar debaixo de água, recordar o toque unicelular: o código na pele.  Recebo a menina amordaçada no meu peito.
      Entre arroios de cristal, lembro o meu verdadeiro rosto.
 
XIII
Maquillarnos como es debido, ocultar nuestras arrugas: así aprendimos a escribir como señoritas. Domesticar la sangre. Decapitar montes. Ser fieles al hambre, al agua negra. Mentir si es necesario, sobre las fuentes y los viajes; y sobre todo, que nadie te vea sudando.
      Bailo desnuda en mis propios brazos.
 
XIII
Maquilhar-nos adequadamente, esconder as nossas rugas: assim aprendemos a escrever como donzelas. Domesticar o sangue. Decapitar montes. Ser fiel à fome, à água negra. Mentir se for preciso, sobre as fontes e as viagens; e, sobretudo, que ninguém te veja a suar.
      Danço nua nos meus próprios braços.
 
XIX
No sé conjugar los verbos, por eso siempre me quedo quieta. Aprender un idioma para traducirse a sí misma. Abrir la boca cuando llueve porque no hay agua en casa. Los átomos se sonrojan cuando se miran entre sí. El negro es el único color cuando se mira hacia adentro. Nadar, escupir y silbar es la misma cosa. De tanto miedo me volví terremoto.
      Temblar es la síntesis de todas las acciones.
 
XIX
Não sei conjugar os verbos, por isso fico sempre quieta. Aprender uma língua para se traduzir a si mesma. Abrir a boca quando chove porque não há água em casa. Os átomos ficam rosados quando olham um para o outro. O preto é a única cor quando se olha para dentro. Nadar, cuspir e assobiar é a mesma coisa. Por ter tanto medo tornei-me terramoto.
      Tremer é a síntese de todas as ações.
 
XVI
Propagar el alarido. Producir en cadena la visión afilada. Acreditar la sed, lo necesario del exceso. Tirar la carta equivocada, acertar en el barranco. Triturar las palabras. Tirarle la piel muerta al pequeño dios autista: ahorcarse en sus cuerdas vocales.
      El grito es mi lengua materna.
 
XVI
Propagar o alarido. Produzir em cadeia a visão afiada. Acreditar na sede, a precisão do excesso. Jogar a carta errada, acertar no barranco. Triturar as palavras. Tirar a pele morta do pequeno deus autista: enforcar-se nas suas cordas vocais.
      O grito é a minha língua materna. 
 

Michael Benítez Ortiz


15 agosto, 2025

durante anos esteve em silêncio. / منذ سنين يبحلق في الصمت

 
ماذا وَشْوشْتَ للكمانِ الذي أهْديتَنيه
منذ سنين يبحلق في الصمت
وكلما مرَرتُ به يئنّ .
 
البارحةَ ،راقصتُه مديدا
على" ترافياتا دي فيردي "
حتى أجهش بالغناء ..
أدار مفتاح "صول" على سره
فتناثرت قبة الليل .
لم يسقط صريعا
جمع أوتاره ثم أفضى:
 
- آه لو تعلمين .. !
 
 
Rabia Djelti
 
 
Que murmúrio instalaste no violino que me deste?
durante anos esteve em silêncio.
agora, sempre que passo ao pé dele, geme.
 
ontem dancei com ele um bom bocado...
ao som da “La Traviata” de Verdi
até que explodiu em canção
 
Rodou a clave de sol em segredo
e a cúpula da noite desfez-se em mil pedaços
Não caiu morto
 
Coligiu as suas cordas e expressou-se :
- Oh se soubesses ...