23 maio, 2007

massarelos

 
 
No passeio agreste da rua Cilindro de Cós, ao remoer de Massarelos. A água doura em fundo quântico com o mar, despixelizando a minha vista talássica, despenhei de uma montra aurífera para a bruxaria do real, isto: o que passava.
 
A mole assim perfurada, nela revisto e incerto quanto inserto, era um riso em monstro roquetado sobre a minha identidade. Que pusesse, as coisas devidamente con-sideradas, a palavra em seu bem escrito: idemtidade.
 
Algo mexia fora das lojas, um pequeno atavio caudal, um cabo de conexão. O movimento zumbidor inflexionou-me para outras realezas, outras realidades. Da loja Saga do Espírito, vi sair Madame de Stäel, deitando sonoramente o seu ricino: “quanto mais conheço os homens mais gosto de animais”. Aproveitei para a cumprimentar e oferecer-lhe a vigésima edição da Origem das Espécies. Ela desapareceu de repente como transportada em carruagem Dona Sol gentilmente oferecida pela Biscaia. A loja ficou vazia, só atrá do balcão se congeminava com ovos do campo.
 
Perfilei de novo as tíbias para um endereço de deâmbulo. As janelas e varandas, inclinações de pedra e roupas esmoladas drapejavam em prepúcio sobre a bigamia ocular. O som da energia vital e eloquente é que me levava para outra dimensão. Estava a acontecer qualquer coisa e nenhuma palavra por limite. A água doura desaparecia agora no escuro translúcido uma garrafa que a despaisagem podia obrigar a abrir. No passeio, o movimento da energia volteava em som de cascalho pouco alarde.
 
Parei, demorei dois séculos a parar. O cão é uma metáfora.
 
 
alberto augusto miranda