Os bicharocos lambiam agora as patas da algazarra
eu não gostava dos meus cheiros, as águas duravam pouco, a fobia olorenta vinha-me do excesso de reminiscências, urinava com leve abertura de pernas sem interromper a conversa do negócio, mais importante que o alívio, alívio só durante o sono, na desmemória das galináceas, nos acidentes do trânsito onírico, na desperceção das hormonas.
Isso faz-te bem ao cérebro, era com aflição mansa que beijava os cadáveres, suportando a repugnância que as flores exaravam, havia repórteres no recinto tanático, vinham da casa da mariquinhas e da lareira do chefe do bairro, emitiam depois os certificados de miséria tão necessários à desvinculação das ordens dentro da ordem, tudo se ordenhava naquele monopólio de mandaretes à procura de encómios, líricos e financeiros, que lhes suavizassem a frustração de não terem vida própria, de andarem na sanguessuguice dos eróticos clandestinos.
Bem pastavam a pele com aloevera nas cerimónias da estultícia rapioqueira que lhes permitiam ares. Esses ares eram uma receita fantástica. Tinham aprendido isso desde meninos. O Padrinho, numa viagem balcânica, levara-os a Fezes de Baixo, oferecendo-lhes frascos sem nada, cujo rótulo era: “Aires de España”. Eles comprometeram-se, perante o Padrinho, a competir e a inovar.
Os novos Aires, por eles fabricados após matutações prejudiciais à saúde, tinham algo de novo, deixavam de ser inodoros, os gases não podiam agora ser acusados de vazio, estavam preenchidos com gases nacionais, filigranados após sacrificiais ingestões de gastronomia regional. Assim somavam mais-valias na concorrência com as Fezes de Cima, também conhecidas como soundbytes a quens as televisões não davam descanso, sempre a galar.
alberto augusto miranda