06 outubro, 2007

tejo, tejo, tejo


Com o seu Quê, na franja de belém sobre o tejo, no despenhadeiro murado que ampara conhecidas esplanadas, o retoque de uma mão assolando o buraco frio e castanho, diminui e revitaliza os jerónimos.

na frontaria, no encaixe de suas traseiras, na compunção de uma arquitectura organicamente lida, as fezes barrocas apontam à trívia cidadela de onde a metáfora se escapa. Dali, das peneiras, se ausculta o centro comercial a ser virtuosamente adjudicado para forragens, jorrando notas à rebatina na composição do pavimento áccio-turístico.

Quando se acende a ala-lâmpada, desafeita às conquistas, o morro almadeno vitupera as crenças infantis com que se ouve, em mistura, a chuva nos telhados romanescos.

Imagino, preciso, um telhado, o céu não me conforta. Creio que a admiração resulta da visão medo-espantada. O terror firmamental, marítimo, gasoso, térreo, fez nascer a Beleza. Muitos se pulsionaram para acrescentar tal terror, para alargar o conceito de Belo. Viciados nesse medo arquétipo, combateram-no com monumentos cheios de Beleza. São cercos a Lisboa. É difícil apalpar esses módulos. Falámos nos séculos dessa beleza inagarrável. A estética é uma arma de guerra, um supremo.

Descendo a Graça, o roncar vintista do 28, na cidadania do vento, escolho os calmares, moluscos temperados no guisado das desproporções. Indiferentes e o inexoráveis, as águas?

Ao investigá-las, a apoteose dos hidrocarbonetos e de toda a semântica do lixo, fazem-me inalar as bolsas dos atravessantes, dos que nadam, dos que transitam em nada, cobrados, sadicamente cobrados.

A ponta, na sofreguidão messiânica do futuro, salta em mola sobre a insónia: os valetes continuam as suas tarefas de manter a higiene da pupila anal.

Um rio, em mar terroso vai avançando, deslocalizando a obra. No andar soterrado da travessa de s. vicente, entre a falente feira da ladra, os únicos esguichos sonoros pertencem às felinas morganas que antecipam intuitivamente os naufrágios.

Não vou comer os pastéis, nem pisar as ervas jardineiras do império. Mais a sul, no exacto mediterrâneo dos desejos informatados, um emigrante-peixe sucumbe ao peso dos seus cuidados, não pode ninguém da proceridade precaver-se.

E o zumbido da europa a farfalhar-se de leis guilhotinantes ouve-se em qualquer centro. Num bar calafetado, exaurindo com dificuldade o dia não-acontecido, os trovadores da ordem encontram energias para a justificação do balofo e, mais danoso, do taipal que cobre os horizontes. As obras - castanhas e frias - continuam a fazer-se às escondidas.

O Tejo deixa? Levanta-se um acetinado aeroporto que servirá as multidões que se dedicam à escravatura do tráfego, do tráfico. Mobilidade Mobilidade. Os amores são fixações e não trazem salários que paguem o aluguer da cabana.

Desde há cem, pessanha, eu já nem a luz vejo.


alberto augusto miranda