Convivencia
Parecen más, pero sólo
son doce meses. En enero
nos miramos un rato: un laberinto no para salir.
En enero te espero / como cada febrero,
le escribí a la amiga que me escribe,
y febrero sube y baja, baja
y sube, da luz a una esperanza y la
inestabilidad nace en seguida, cuando
llega marzo, cuando miramos atrás
suponiendo y creyendo que ya ha pasado algo:
la ilusión de que lo insignificante
significa, todo
parece inflado como el tiempo.
En abril nos miramos
un rato, miramos lo que pide
no ser visto, vemos lo que no queríamos
mirar. Pasan las encinas y los verdes del campo,
lo lejos-cerca de mirar el campo desde un
tren, porque se mueve, o desde un collado,
porque está alto. Mayo vuela hacia afuera
y me propone mi mejor autorretrato:
melancólico y risueño. Vuelo hacia
mayo, mayo vuela hacia ti, tú
miras. Dos más dos son
junio, seis por tres son junio, logaritmo
en base junio y no quiero ni sé
seguir, pero se trata de seguir, la esperanza
con su aritmética sexy. Ahora
nos fijamos en un detalle mínimo
que marca la diferencia entre lo igual
y lo diferente, o que los iguala: julio
cae con su invierno y asciende
con su asombro, mi asombro, tu
desilusión. Julio acaricia y rasca.
Julio olvida, tiembla con su siempre-nunca
y su agosto, cuando te suelto, me
sueltas, y así podemos soltándonos retroceder
hasta septiembre. Septiembre, lleno
de meses, de años, cuenta
los meses hacia atrás, cuenta
los años hacia adentro. La marea
de octubre trae de todo: un zapato
de antes de que se inventara el pie, un
beso de antes de que se inventara la memoria,
una red, una botella llena de mar y de octubre.
Paseo por la orilla de octubre metiendo
los pies en la red a ver qué pasa. No
quiero pedir ayuda y no sabría.
Amargado y cobarde es ahora
mi mejor autorretrato, renovado en
noviembre, y ahora toca morir en secreto: todos
sabemos hacerlo, sabemos también nacer
de nuevo preparándonos para el final,
esquivar el final y mirarnos otro rato soñando
con lo que vemos y se acerca lejos.
Mariano Peyrou
Convivência
Parecem mais, mas apenas
são doze meses. Em janeiro
olhamos um pouco um para o outro: um labirinto não para sair.
Em janeiro espero-te / como cada fevereiro,
assim escrevi à amiga que me escreve,
e fevereiro sobe e desce, baixa
e sobe, dá luz a uma esperança e a
instabilidade surge logo a seguir quando
chega março, quando olhamos para trás
assumindo e acreditando que já aconteceu alguma coisa:
a ilusão de que o insignificante
significa, tudo
parece inchado como o tempo.
Em abril olhamo-nos
um pouco, olhamos o que pede
não ser visto, vemos o que não queríamos
olhar. Passam as azinheiras e os verdes do campo,
o longe-perto de olhar o campo a partir de um
comboio, porque se move, ou de um outeiro,
porque está alto. Maio voa para fora
e propõe-me o meu melhor auto-retrato:
melancólico e sorridente. Vôo para
maio, maio voa para ti, tu
olhas. Dois mais dois são
junho, seis vezes três são junho, logaritmo
em base junho e eu não quero nem sei
continuar, mas trata-se de seguir, a esperança
com a sua aritmética sexy. Agora
fixamo-noss num detalhe mínimo
que faz a diferença entre o igual
e o diferente, ou que os iguala: julho
cai com seu inverno e ascende
com o seu assombro, o meu assombro, tu
desilusão. Julho acaricia e coça.
Julho esquece, treme com o seu sempre-nunca
e o seu agosto, quando te solto,
soltas-me, e assim podemos soltado-nos retroceder
até setembro. Setembro, cheio
de meses, de anos, conta
os meses para trás, conta
anos para dentro. A maré
de outubro traz de tudo: um sapato
antes da invenção do pé, um
beijo antes da memória ter sido inventada,
uma rede, uma garrafa cheia de mar e outubro.
Passeio pelo litoral de outubro
com os pés na rede para ver o que acontece. Não
quero pedir ajuda e não saberia.
Amargurado e covarde é agora
o meu melhor auto-retrato, renovado em
novembro, e agora cumpre morrer em segredo: todos
o sabemos fazer, sabemos também nascer
de novo nos preparando-nos para o final,
fintar o final e olharmo-nos outro momento sonhando
com o que vemos e se aproxima longe.
Anxo Pastor