03 fevereiro, 2023

carmela com forma

 

Convivencia


Parecen más, pero sólo

son doce meses. En enero

nos miramos un rato: un laberinto no para salir.

En enero te espero / como cada febrero,

le escribí a la amiga que me escribe,

y febrero sube y baja, baja

y sube, da luz a una esperanza y la

inestabilidad nace en seguida, cuando

llega marzo, cuando miramos atrás

suponiendo y creyendo que ya ha pasado algo:

la ilusión de que lo insignificante

significa, todo

parece inflado como el tiempo.

En abril nos miramos

un rato, miramos lo que pide

no ser visto, vemos lo que no queríamos

mirar. Pasan las encinas y los verdes del campo,

lo lejos-cerca de mirar el campo desde un

tren, porque se mueve, o desde un collado,

porque está alto. Mayo vuela hacia afuera

y me propone mi mejor autorretrato:

melancólico y risueño. Vuelo hacia

mayo, mayo vuela hacia ti, tú

miras. Dos más dos son

junio, seis por tres son junio, logaritmo

en base junio y no quiero ni sé

seguir, pero se trata de seguir, la esperanza

con su aritmética sexy. Ahora

nos fijamos en un detalle mínimo

que marca la diferencia entre lo igual

y lo diferente, o que los iguala: julio

cae con su invierno y asciende

con su asombro, mi asombro, tu

desilusión. Julio acaricia y rasca.

Julio olvida, tiembla con su siempre-nunca

y su agosto, cuando te suelto, me

sueltas, y así podemos soltándonos retroceder

hasta septiembre. Septiembre, lleno

de meses, de años, cuenta

los meses hacia atrás, cuenta

los años hacia adentro. La marea

de octubre trae de todo: un zapato

de antes de que se inventara el pie, un

beso de antes de que se inventara la memoria,

una red, una botella llena de mar y de octubre.

Paseo por la orilla de octubre metiendo

los pies en la red a ver qué pasa. No

quiero pedir ayuda y no sabría.

Amargado y cobarde es ahora

mi mejor autorretrato, renovado en

noviembre, y ahora toca morir en secreto: todos

sabemos hacerlo, sabemos también nacer

de nuevo preparándonos para el final,

esquivar el final y mirarnos otro rato soñando

con lo que vemos y se acerca lejos.


Mariano Peyrou


Convivência


Parecem mais, mas apenas

são doze meses. Em janeiro

olhamos um pouco um para o outro: um labirinto não para sair.

Em janeiro espero-te / como cada fevereiro,

assim escrevi à amiga que me escreve,

e fevereiro sobe e desce, baixa

e sobe, dá luz a uma esperança e a

instabilidade surge logo a seguir quando

chega março, quando olhamos para trás

assumindo e acreditando que já aconteceu alguma coisa:

a ilusão de que o insignificante

significa, tudo

parece inchado como o tempo.

Em abril olhamo-nos

um pouco, olhamos o que pede

não ser visto, vemos o que não queríamos

olhar. Passam as azinheiras e os verdes do campo,

o longe-perto de olhar o campo a partir de um

comboio, porque se move, ou de um outeiro,

porque está alto. Maio voa para fora

e propõe-me o meu melhor auto-retrato:

melancólico e sorridente. Vôo para

maio, maio voa para ti, tu

olhas. Dois mais dois são

junho, seis vezes três são junho, logaritmo

em base junho e eu não quero nem sei

continuar, mas trata-se de seguir, a esperança

com a sua aritmética sexy. Agora

fixamo-noss num detalhe mínimo

que faz a diferença entre o igual

e o diferente, ou que os iguala: julho

cai com seu inverno e ascende

com o seu assombro, o meu assombro, tu

desilusão. Julho acaricia e coça.

Julho esquece, treme com o seu sempre-nunca

e o seu agosto, quando te solto,

soltas-me, e assim podemos soltado-nos retroceder

até setembro. Setembro, cheio

de meses, de anos, conta

os meses para trás, conta

anos para dentro. A maré

de outubro traz de tudo: um sapato

antes da invenção do pé, um

beijo antes da memória ter sido inventada,

uma rede, uma garrafa cheia de mar e outubro.

Passeio pelo litoral de outubro

com os pés na rede para ver o que acontece. Não

quero pedir ajuda e não saberia.

Amargurado e covarde é agora

o meu melhor auto-retrato, renovado em

novembro, e agora cumpre morrer em segredo: todos

o sabemos fazer, sabemos também nascer

de novo nos preparando-nos para o final,

fintar o final e olharmo-nos outro momento sonhando

com o que vemos e se aproxima longe.


Anxo Pastor