12 março, 2023

é o mar e tudo o que nele cabe

 


I


O limpa-vidros em cadência de metrónomo

implacável soletra brocados de paisagem

Em silabário converso trauteia

uma sonolência de pálpebra quebrada

Sem horizonte nem ponto de fuga

uma melopeia triste como os dias

liquefactos ou intermitentes

a que chamamos nossos vossos

de toda a gente

Uma brisa quente atrasa-me o olhar

na secura póstuma do pavimento

De longe o eco no pesponto da letra

intromete-se na intumescência da frase

a fazer sonho sem sonhador aérea

água submarina reticência

um vazio infindo infindo infindo


Fernando Martinho Guimarães