I
O limpa-vidros em cadência de metrónomo
implacável soletra brocados de paisagem
Em silabário converso trauteia
uma sonolência de pálpebra quebrada
Sem horizonte nem ponto de fuga
uma melopeia triste como os dias
liquefactos ou intermitentes
a que chamamos nossos vossos
de toda a gente
Uma brisa quente atrasa-me o olhar
na secura póstuma do pavimento
De longe o eco no pesponto da letra
intromete-se na intumescência da frase
a fazer sonho sem sonhador aérea
água submarina reticência
um vazio infindo infindo infindo
Fernando Martinho Guimarães